Ás vezes, nada.
Há dias em que meu nome não me cabe.
Gosto de tantas coisas…
os cheiros, os nomes, os detalhes —
mas, às vezes, não gosto de nada.
Nem do som da minha própria respiração.
Faço mil movimentos,
me espalho pelo mundo em gestos e tentativas,
mas há dias em que não me movo nem por dentro.
Penso no mundo inteiro,
em mapas, rostos, luas e lugares —
e, de repente, me pego vazia,
como se o pensamento tivesse fugido de mim.
Sei de mares antigos,
de astrologia mal compreendida,
de memórias que dançam com a poeira,
de programas que me distraem
e de terapias que me escavam.
Mas, às vezes, não sei nem quem sou.
Olho o espelho embaçado do banheiro
e não reconheço o borrado que me encara.
Talvez seja eu, talvez só uma névoa.


